Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o céu
- Mariany Gonçalves

- 12 de mar. de 2024
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"Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o céu."
Ainda que pareça ruim nunca nos realizarmos, essa citação do Pessoa nos permite pensar que é preciso que haja falta para que possamos nos movimentar pela vida, pois é ela que nos permite desejar. Desejar ser mais, ser melhor, mudar de ritmo, de vida, de rumo, de lugar. Não há um ponto de basta definitivo, um lugar de chegada onde a felicidade eterna nos espera.
Mas, ainda que a falta seja desejável, o vazio que se cria entre o abismo do que somos e o que desejamos pode fazer nascer a angústia. A angústia de nada faltar, de nada preencher esse vazio que não é falta, mas a falta dela.
As redes sociais, por exemplo, nos mostram a todo o tempo um céu de ilusões, mas não nos dizem quão distantes estamos de nos realizarmos nele, pois ficamos completamente alienados à imagem alheia, olhando menos pra nós mesmos.
Ao nos alimentarmos cada vez mais da ilusão de ser ou ter esse ideal inatingível, podemos nos sentir como um poço que vive a fitar o céu e que, de tão fundo, nada preenche, a não ser o vazio, em que a única coisa que falta é a falta.



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