Abrace a sua desimportância
- Mariany Gonçalves
- 7 de abr. de 2024
- 2 min de leitura

Estamos acostumados a ler e escrever sobre o quanto somos importantes, únicos e, até mesmo, autossuficientes. Em razão do domínio dos sistemas econômicos e políticos contemporâneos, nossa percepção sobre o que é o indivíduo e seu valor social está atrelada à ideia de produção e consumo.
Portanto, quanto mais autônomo alguém é, mais valor acredita ter e, consequentemente, mais independente e/ou autossuficiente se torna. Nessa lógica, o indivíduo torna-se cada vez mais voltado para si, acreditando que se basta, que tem valor por si mesmo e que, por tudo isso, carrega uma grande importância, especialmente diante do olhar do outro.
Porém, uma das consequências críticas da superestimação artificial da própria imagem é se ver obrigado a fazer malabarismos para tentar mantê-la em relação ao olhar do outro (ou do Outro). Na sociedade contemporânea, o valor que se tem depende da aprovação social, portanto, da aprovação dos outros. Bancar a própria importância pode acabar sendo cansativo e alienante.
Por isso, reconhecer a própria desimportância é estar ciente de nossa transitoriedade na existência, pois nossa posição diante dos outros e do mundo não é o tempo todo tão destacada assim como poderíamos supor.
Isso não diminui nosso valor, ao contrário, nos permite viver de forma mais autêntica, sem tanta submissão ao que julgamos ser o desejo do Outro, pois, ao julgarmos saber o que o outro espera de nós, permanecemos mais em função de atender as demandas alheias, numa posição de pura repetição, do que efetivamente experienciando a vida.
Abraçar a própria desimportância permite sermos mais livres, menos submetidos à incidência constante de um olhar julgador do outro, que não sabemos bem quem é ou de onde vem.
Reconhecer-se desimportante permite saber, também, que, embora ocupemos vários lugares nas relações com os outros e com o mundo, esses lugares quase nunca nos colocam no palco com as luzes voltadas somente para nós.
Podemos ser desimportantes e isso, certamente, é um alívio.
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