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O que não é efeito de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou como fracasso


pessoa com uma pílula da felicidade entre os dentes

"O que não é efeito de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou como fracasso."


Essa frase, que é de Milan Kundera, no livro "A Leveza do Ser", me fez pensar sobre o imperativo cultural pós-moderno: devemos ser exclusivos, singulares. Essa singularidade tem que nos destacar em relação aos demais, evidenciar que somos diferentes e que vivemos (muito bem, obrigada!) em função dessa diferença.


Isso obedece à imposição da individualização, da autossuficiência, da felicidade, da produção, do consumo. Quanto mais, melhor. E o que resta dessa lógica é ao que me remeteu a citação: felicidade para os fortes, sofrimento para os fracos. Sucesso para os corajosos, fracasso para os covardes. Se você fracassa é porque não soube ser forte, ainda que não tenha podido escolher muitos dos elementos determinantes do seu meio.


Esse imperativo de personalização é a morte em vida dos corpos que não carregam mais uma alma autêntica, que possa ter a opção de apenas "ser", mas, sim, que carregam o senso de obrigação de ser "alguém" ou "algo" que não se encontra no outro. É uma forma de se ter mais do mesmo e, assim, na tentativa de sermos tão diferentes, acabamos sendo tediosamente iguais.


O ditame da autossuficiência alimenta a dolorosa ilusão de sermos sempre insuficientes, causando cada vez mais angústia. Àqueles que não têm escolha, a não ser usarem a máscara de bem-sucedidos, talvez não reste o mérito, mas o fracasso em, vez ou outra, apenas ser, assim, sem complemento.

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© 2023 Mariany Gonçalves Psicanalista. Todos os direitos reservados.

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