É importante acolher e dar espaço para a dor, sem negá-la
- Mariany Gonçalves

- 2 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de mar. de 2024

Muitas vezes ouvimos, em momentos difíceis, de pessoas queridas e que nos amam, frases que se tornam uma espécie de imperativo como "não chora", "vai dar tudo certo", "vai ficar tudo bem", "fica calma(o)" etc. É certo que muitas dessas pessoas podem querer apenas se livrar do incômodo que é ter que lidar com a dor alheia, já que ela revela nossa própria dor, mas muitas outras têm realmente a intenção de ajudar aquela que está sofrendo e acreditam que afirmações ditas positivas poderiam surtir um efeito também positivo.
No entendo, vivemos na "sociedade do desempenho", como diz Byung-Chul Han, em que impera a ideia de competência e alta performance em tudo aquilo que fazemos. Não há espaço para o fracasso, para o choro, para a vulnerabilidade, para a imperfeição. É feio e desinteressante não ser positivo 100% do tempo, ainda que essa positividade seja uma máscara e esteja apenas na superfície, cobrindo o mar de angústia que toma conta de uma sociedade inteira. Nos tornamos especialistas em muitas coisas, especialmente em autoagressão.
Por um lado, os estímulos positivos, a esperança e a fé são importantes e têm um papel essencial, afinal, o próprio ato de viver é um ato de esperança e fé, já que todos os dias acordamos e vamos dormir com a certeza de que o amanhã virá. Por outro lado, impor àquele que está em sofrimento que deve pensar "coisas boas", que não deve chorar e que tudo vai ficar bem, pode ser uma forma de agressão que está incluída no pensamento doentio e contraditório de que não podemos sofrer.
Assim, só aquele que sofre pode falar sobre a sua dor e sabe a importância que tem ser escutado e acolhido. Às vezes um simples "vai dar tudo certo" provoca efeitos extremamente negativos naquele que só gostaria de sentir que sua dor foi reconhecida. E não que a dor, o choro e o fracasso sejam, necessariamente, o que se deve esperar da vida, mas devem ter espaço para serem sentidos e processados quando necessário sem que aquele que está em sofrimento sinta-se ainda pior ou mais incapaz.
Em tempos de positivismo cruel, que tenhamos paciência de acolher e dar espaço para a dor; que saibamos nos alegrar na imperfeição e reconhecer, também, os benefícios que há em fracassar de vez em quando porque, afinal, nem sempre tudo acaba tão bem assim como gostariam os nossos ideais.
Imagem: Flickr

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